terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Silêncio

Odeio o silêncio. Talvez seja das coisas me mais me assusta. Tenho de assumir esta fobia com toda a frontalidade, fobia do silêncio, segundo consta é uma coisa tão rara que não sei o nome em português, descobri o nome em inglês e espanhol. Existe uma crónica do Miguel Sousa Tavares que fala do silêncio: " Porque nada é mais íntimo e mais indestrutível do que o silêncio partilhado. Tudo o resto são apenas palavras, sons frases, coisas que qualquer um pode dizer. Podemos desdizer hoje o que dissemos ontem, podemos gritar hoje, por ódio, o que ontem segredávamos por amor. Mas o silêncio fica porque nunca mente, porque é tão íntimo que não pode ser representado, é tão nvolvente que não pode ser rasgado. Cada um deles faz por desejar a salvação própria, mas, acima de tudo teme a salvação do outro. O silêncio é o que lhes resta, o que os une, uma finíssima película de tempo suspenso, para além da qual não há mais nada do que a escuridão dos abismos".
Bonito, não? No outro dia, alguém muito importante para mim, dizia-me que mais valia estar calado do que dizer disparates, continuo a preferir falar, não gosto das coisas que ficam por dizer, por mais parvas que sejam. Aquilo que fica por dizer mais tarde ou mais cedo transforma-se num minotauro, que se vai alimentar do silêncio.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Comigo é diferente

Existem  pessoas que são contadores de histórias. Somos capazes de passar horas a ouvi-los. Até agora conheci três verdadeiros contadores de histórias. Lembro-me de passar horas a ouvir o Sr. Jorge a contar os episódios, alguns vividos na companhia de pessoas bem conhecidas da nossa praça, ligadas, a maior parte delas à rádio e à música. Não sei deste Senhor à aproximadamente dez anos, era dono de uma empresa que tinha sede no mesmo local onde trabalhei alguns anos. Já o tentei procurar, mas não o achei. O facto do Henrique Mendes e do seu programa ponto de encontro ter morrido, também não me ajudaram. Garanto-vos que já teria ido à televisão pedir ajuda. Como diz um conhecido pensador da nossa sociedade intelectual " Não se encontra o que se procura, mas o que se encontra". Li também num livro que quando não encontramos alguma coisa, foi porque fomos levados a procurar no sítio errado. Enfim!
Infelizmente para mim, nunca tive jeito para contar histórias. Felizmente para os outros sou uma ouvinte de histórias, às vezes não entendo bem porquê, passo horas a olhar para o espelho a tentar identificar o meu ar de padre, ainda não consegui, mas quem sabe? Das diferentes histórias que fui ouvindo ao longo da vida, no final todas elas são tão iguais, se as pessoas em vez de falarem com um ouvinte falassem com um contador chegarariam depressa à conclusão de que existe uma semelhança entre todas as histórias e todas as pessoas. Claro que estou incluída no grupo dos que quando conta a sua história, diz logo muito depressa que consigo foi diferente. Os motivos que me levaram a fazer determinadas coisas são sempre legítimos e justificam qualquer atitude mais ou menos moralmente condenável que eu tenha tido. Tenho uma vantagem, mais tarde ou mais cedo a vida tem se engarregado de me demonstrar que eu faço as mesmas asneiradas que todos os outros. Tento por isso, antes de criticar colocar-me nos sapatos do outro. Nem sempre consigo, mas pelo menos posso dizer que tento.